Mário e Marcos

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O meu nome é Marcos e sou cuidador profissional, o que quer dizer que dou apoio domiciliário às famílias com pessoas dependentes.

Na maioria das vezes são os próprios familiares os que me contatam porque se encontram numa situação nova para eles e não sabem como enfrentá-la. Quase sempre me chamam para cuidar dos "velhotes", e acabo por me afeiçoar muito a eles.

Há já alguns meses, o Mário teve um derrame pleural e esteve dezasseis dias internado no hospital. Quando voltou para casa tinha perdido mobilidade, precisava de usar absorventes e necessitava que alguém o ajudasse a levantar-se, a tomar banho e a vestir-se. A família do Mário contatou a agência para a qual eu trabalho e assim foi como entrei na vida dele. Durante mais de dois meses fui o seu cuidador, e acabámos por travar amizade.

O Mário é uma pessoa com muita energia. Fala pelos cotovelos. Está sempre a contar anedotas e não poupa ninguém. Pedia-me sempre que falasse mais devagar, dizia que os brasileiros falam muito depressa, mas isso não é verdade. Os portugueses falam bem mais depressa do que nós!

Quando cuidamos de pessoas como o Mário, cuja doença é apenas física, é preciso ter cuidado com o que dizemos, porque elas não sofrem qualquer tipo de demência. É importante falar com elas, ouvi-las e rir com elas. Sobretudo quando as levantamos, as deslocamos ou lhes damos banho. É preciso explicar-lhes o que estamos a fazer, passo a passo, e até mesmo brincar sobre a situação, porque isso é bom para elas, dá-lhes ânimo.

É importante saber deslocar e levantar as pessoas idosas, o que não é fácil. Lembro-me de uma senhora que não tomava banho há seis meses porque ninguém sabia como ajudá-la. Limitavam-se a asseá-la na cama. Quando lá cheguei, levantei-a e dei-lhe um duche, e apesar de estar muito doentinha, a expressão do seu rosto mudou.

Lá no Brasil somos muitos irmãos, e entre todos cuidamos dos meus pais. É importante cuidar da família. Se não há tempo ou não se sabe como fazê-lo, nós podemos ajudar.

Foi assim que eu entrei nesta casa, como um mais da família. Conheço os filhos do Mário, a mulher dele. Costumamos falar por telefone e volta e meia vamos tomar uma bica, contamos anedotas e jogamos às cartas.

Talvez o Mário já não precise de um cuidador, mas todos precisamos de alguém que se preocupe connosco, alguém com quem poder falar e até mesmo gozar um bocadinho. A vida assim é bem melhor.

Para mim, ser cuidador é isso mesmo. Pôr um sorriso no rosto das pessoas de quem cuido e conseguir que esse sorriso dure o máximo tempo possível.